O candidato que tem medo de si próprio
Publicado quarta-feira, novembro 16, 2005 por tms | E-mail this post
Paulo Tunha, no
pulo-do-lobo, fala naquela
curiosidade que o Professor não quis satisfazer.
"É a curiosidade, danada, arranha, sobretudo quando se esperam milagres da sua satisfação" - diz Paulo Tunha. Cavaco, segundo o seu apoiante, preocupou-se em distinguir o essencial do acessório, em não satizfazer a curiosidade alheia, insistiu naquilo que do seu ponto de vista era o importante, isto digo eu, a
economia. Mas o que disse Cavaco sobre
economia? Não lhes bastará a declaração da insuspeita (neste caso) Constança Cunha e Sá sobre a entrevista ao professor"
Por mais finca pé que fizesse» não deu para «obter respostas para algumas das perguntas" - 24Horas.
Metadiálogos de Boliqueime (XII)
-- Ó, avó...
-- Sim, meu amor?...
-- Sabe o que aconteceu hoje no colégio?...
-- Não, querido, conta lá à avó...
-- Então, viraram-se para mim,e disseram: "és tu que és o neto do Cavaco, não és?..."
-- E?...
-- ... e...
-- ... e tu disseste logo que SIM, que eras um dos netinhos do homem que pôs Portugal no Pelotão da Frente dos países da C.E.E., do homem que deu a Portugal a melhor rede de estradas da Europa, do homem que transformou cada português num licenciado, no homem que transformou a Agricultura, a Indústria e os Serviços nacionais num exemplo para toda a Europa, no homem que agarrou nos hospitais e fez deles centros de repouso e lazer, do homem que limou o peso do Estado até ele ter o peso de uma pluma, do Grande Timoneiro, do amigo dos mais desfavorecidos, dos que sofriam, dos que nada tinham, daquele grande homem que tributou as fortunas para que os miseráveis não fossem tão miseráveis, que impediu que houvesse sem-abrigo, desempregados, gente sem esperança pelo país inteiro, do homem que fez do urbanismo português uma regra mundial, do Exterminador dos Corruptos, do Caçador dos Não-Pagadores de Impostos, do homem que era capaz de mandar fechar um Banco para instalar lá um lar da Terceira Idade, do HOMEM que levou a Cultura Portuguesa ainda Além da Taprobana...
-- Ai, não, vó, nada disso!!!...
-- Então, amor?...
-- (silêncio) ... eu disse que...
-- ... que...
-- ... que não conhecia, que era dos Cavacos, sim mas dos Cavacos de Fornos de Algodres... (chora) Ai, vó, eu tive tanto medo!... Se a avó visse o ar com que eles me perguntaram se era eu que era o netinho do Cavaco!!!!!!... (chora)
(cai o "naperon")
Muito bem, Constança. Assinado: B. Magro e P. Bueno.
Metadiálogos de Boliqueime (XIII) -Um São Francisco de Assis da Lapa-Pobre
-- AI, VÓ, EU NÃO QUERO IR MAIS PARA O COLÉGIO!...
-- Então, por quê, meu quequezinho de coco?
-- Porque o "Naifas" anda lá com uma foto do "Expresso" a mostrar a toda a gente, e a dizer que eu sou mesmo o neto do Cavaco, e eles chamam-me muitos nomes!...
-- Querido, mas tens de perceber que faz parte do caminho da Cruz sofrer, para poder chegar onde o vovô quer chegar. Pensa no vovô como um mártir, numa pessoa em que todas as pessoas más batem e que vai ganhar porque as pessoas boazinhas deste país vão ter pena daquele santo homem em quem tanto se bate, e vão votar nele, pondo a cruz no Coitadinho...
-- Ó, vó, mas eles chamam-me nomes tão feios!... Por que é que o "Expresso" pôs, na primeira página, a fotografia do vovô connosco?... Eu não queria aparecer na primeira página do "Expresso"!... Eu sou muito pequenino para aparecer na primeira página do "Expresso"!...
-- Meu meio quequezinho de coco... O "Expresso" pôr o vovô contigo na primeira página para mostrar aos Portugueses que ele não era só o homem mais poderoso de Portugal no tempo em que mais dinheiro havia para se roubar, e se roubou, em que o dinheiro que vinha para os Portugueses acabava a forrar as paredes de bancos duvidosos, que o vovô não se limitou a criar muitos pobres, muitos desempregados, muitas pessoas sem abrigo, muitos drogados, muitos arrumadores de carros, muitos prédios horríveis nos subúrbios, muita gente a ganhar misérias com contratos a prazo, muitas empresas-fantasma, para sacar dinheiro e desaparecer do mapa, todas as estratégias para não pagar impostos, que o vovô não era só aquele homem do tempo em que os doentes eram contaminados, por questões de economia, com lotes cheios de HIV, em que se dispersavam polícias à mangueirada, em que se dava com o cacete no povo, e os rapazinhos que iam ver que barulho era aquele acabavam paraplégicos com balas de metal, disparadas por armas de borracha, cravadas na coluna... O "Expresso" publicou a foto do vovô com os seus netinhos para apelar ao afecto, e mostrar que o vovô, para lá das boas obras atrás realizadas, também era um coração de Deus, um sofredor, um São Francisco de Assis da Lapa Pobre, capaz de procriar, e de estender a sua asinha de vovô-galinha por cima de quatro netinhos muito fofos!...
-- Ó, vó, mas o vampiro, a piranha e a hiena também procriam e protegem os seus netinhos, não é?...
-- Sim, querido, mas desse facto da História Natural, o "Expresso" não se lembrou. Os jornais não podem mesmo saber tudo, né?...
(Cai a renda de bilros, que, por causa das pregas desagradáveis, Maria, Modesta e Modista, ajeita carinhosamente com a mão)