Há precisamente 12 anos, neste mesmo dia, realizou-se em Lisboa uma manifestação de estudantes do Ensino Superior. Estariam entre 1000 a 1500 manifestantes em frente ao Parlamento quando o inacreditável aconteceu.
O Corpo de Intervenção carrega, de forma brutal, não só sobre os estudantes que se manifestavam mas também sobre os muitos transeuntes que por ali circulavam, alguns já com uma idade avançada.
Polícias e cães fizeram dispersar os manifestantes, numa demonstração de força sem precedentes na hsitória das manifestações estudantis do pós-25 de Abril.
No dia seguinte, e de forma quase espontânea, cerca de 10 mil estudantes de todo o país regressaram à escadaria do Palácio de S. Bento. Ao entrarem na praça fronteira ao Palácio sentam-se de costas para o mesmo. Quando a praça estava quase cheia começa a ouvir-se a «Grândola Vila Morena», assobiada pelos manifestantes. Alguns instantes depois, uma estudante levanta-se, dirige-se à cerca metálica que protegia a escadaria do Parlamento, e entrega a um dos membros do Corpo de Intervenção um ramo de cravos. Ao meu lado, muitos choravam. E eu com eles. Emoção e raiva contidas num gesto e num coro de assobios a entoar aquela melodia tão simbólica.
Pelo meio dos manifestantes circulavam vários senhores de óculos escuros. O seu ar completamente comprometido e nada à vontade denunciava a presença de membros do SIS. Numa janela de uma velha casa situada num dos lados da praça, dois elementos da mesma «secreta» filmavam e fotogravam o que lá em baixo se passava e quem lá por baixo se manifestava.
A violência da repressão policial viria a sentir-se mais vezes. Foram os trabalhadores da TAP, foi o buzinão da Ponte 25 de Abril, foram várias outras manifestações estudantis.
O Primeiro-Ministro era Cavaco Silva e eu faço parte dessa geração que cresceu politicamente com a contestação ao seu Governo. Um Governo que permitiu o esbanjamento dos fundos comunitários sem qualquer tipo de controlo. Que demonstrou, por diversas vezes e das mais variadas formas, um autismo total perante a contestação social que aumentava de dia para dia.
Não consigo deixar de abrir a boca de espanto quando ouço os elogios que agora se fazem ao rigor orçamental e à gestão eficiente com que o Professor e os seus pares governaram, durante uma década, os destinos de Portugal. Será a memória dos portugueses assim tão fraca?
Por isto e por muito mais, eu não quero um Presidente assim para o meu País!
Continuo a sentir um arrepio na espinha quando recordo esta manifestação e sobretudo da forma como a descreves.
Recordo-te também que doze dias antes (12 de Novembro de 1992) tínhamos assistido a uma das mais violentas reportagens televisivas e que deixou o país em estado de choque – o Massacre de Santa Cruz em Timor - uma carga policial dos militares da ditadura indonésia. No dia 25 de Novembro na Assembleia da República também recordo os abraços e a solidariedade dos companheiros timorenses que residiam em Portugal. Tanto para nós como para eles, a partir desses momentos, era impossível que as coisas ficassem na mesma.
Eu faço parte da "geração cavaco". Era estudante nessa altura. Vivi esses problemas, indignei-me.
Haja quem não se esquece. Haja sempre quem se relembre desses momentos sinistros, para que não se repitam.
Foi em 1992. E se tivesse sido em 1972?
Diferente, com certeza. Mas com muitas semelhanças, sem dúvida.