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O dia mais longo de Dias Loureiro | Re-mataria
Passavam poucos minutos das cinco da manhã quando o telefone tocou. Do outro lado, um comandante da GNR avisava que a Ponte 25 de Abril estava bloqueada. Centenas de cidadãos barricaram-se em protesto pelo aumento das portagens. Dias Loureiro, na altura Ministro da Administração Interna, começava assim o dia mais longo da sua vida profissional. «Foram momentos dramáticos. É complicado tomar a decisão de avançar com a força, nunca se sabe o que vai acontecer. Foi, sem sombra de dúvida, o dia mais difícil da minha carreira» assegura o homem que, há 12 anos, enfrentou o bloqueio da ponte. E que hoje, garante, «faria tudo igual».
O então ministro de Cavaco Silva passou grande parte desse dia 21 de Junho de 1994 «sozinho». Entrou no gabinete às seis da manhã e ordenou que se mobilizasse um camião grua, o único meio capaz de retirar os camiões da ponte. «Mas a grua estava em Tancos e era impossível chegar antes das 15 horas». Entretanto, as filas de trânsito atingiam dimensões históricas, milhares de pessoas estavam impedidas de chegar ou sair da capital. E o primeiro-ministro estava fora do país. «Convidei outro ministro(*) para me acompanhar numa visita ao local, mas ele não aceitou», lembra Dias Loureiro, que aterrou no largo das portagens por volta das 10 horas. «Deixei claro que o Governo não ia conversar, queriamos a ponte desimpedida». Mas ninguém arredou pé. O ministro voltou para o ministério. «Foi a fase mais complicada do dia. Proibi que me dessem notícias para que o ruído não interferisse na minha decisão». Antes de avançar, falou com o Presidente da República, mas Mário Soares defendeu o direito à indignação. «A sua posição isolou-me», diz.
Acabaram por sair a mal. «Por volta das três da tarde, actuámos mesmo e as coisas compuseram-se», é como Dias Loureiro resume os confrontos entre manifestantes e polícia. No final, um rapaz ficou paraplégico, mas «as coisas podiam ter sido mais graves». Quando chegou a casa, Dias Loureiro tomou um banho e deitou-se, «com a sensação de que tinha feito aquilo que devia fazer», remata.

(*) Ferreira do Amaral

in Público, Suplemento DIAD, 31.10.2005


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Quem somos?

    Fazemos parte de uma geração que nasceu politicamente com Cavaco Silva como Primeiro-Ministro. Organizámos e participámos em manifestações, vigílias e reuniões por um mundo que sabíamos não dever ser dominado por um gestor iluminado que com discursos de rigor escondia o desenhar da crise em que continuamos a viver. Porque temos memória, não esquecemos Cavaco, tal como não esquecemos os seus ministros. Não esquecemos as violentas cargas polícias sofridas, pelas escadarias da Assembleia da República e dentro das Universidades. Não esquecemos o spot da TSF que, da ponte 25 de Abril, lançava o grito para que "gajos ricos, gajos pobres"; se juntassem. Não esquecemos os políticos que Cavaco formou e que o continuaram; Durão Barroso, Santana Lopes, Valentim Loureiro, Isaltino Morais ou Alberto João Jardim. Não esquecemos em Cavaco, o contínuo desrespeito por tudo o que era cultura, arte ou memória. E também não esquecemos aquele dia em que Cavaco perdeu e que nos deixou reentrarmo-nos em torno das nossas vidas. Fomos desobedientes naquela altura e agora torna a ser necessário voltar a sê-lo!

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